Minha história

Vivianne Fair

Claro, nem tudo foi mar de rosas como dá para ver! 

Desde pequena eu queria ser escritora. Sim, mas claro, como toda criança, enchi duas linhas da minha página de caderno com tudo o que eu planejava ser: escritora, professora, desenhista, cantora, detetive, bailarina, atriz, quadrinista, astronauta, fotógrafa e um monte de outras que já nem lembro mais. A professora falava: “Vivianne, me diz uma coisa que quer ser quando crescer. Só uma. Não temos tempo para ouvir tudo.” 

"Eu sabia escrever?"

Bem, claro que por questão de tempo (e realidade), precisei retirar algumas palavras da lista. No entanto mantive ilustradora e escritora por um tempo. Infelizmente, fui sendo dissuadida de ser escritora por amigos e familiares. Teve até um primo meu (eu tinha 7 anos!) que me disse que se uma editora escolhesse me publicar, o que já era impossível, iam mudar tanto minha história que eu nem ia reconhecer mais. Tudo bem que esse mesmo primo contou para a criançada toda da família que o mundo ia acabar em breve e teve um chororô por 3 dias na praia.

Resolvi que escreveria apenas para mim. Por anos escrevia e reescrevia meus livros sem intenção de publicar. Um dia, ao me formar em Artes Plásticas na universidade (para desgosto de alguns familiares), resolvi criar uma fotonovela na minha exposição de trabalho final. Minha professora amou tanto a ideia da fotonovela que me pediu para escrever um livro com ela. Perguntou se eu daria conta de escrever esse livro em 3 meses. Topei. Mandei o projeto do meu livro para uma amiga minha ler, uma devoradora de livros, que era #SUPERSINCERA. Mandei 70 páginas. Ela me escreveu o seguinte:

“Meu Deus. Nunca li algo tão horrível na minha vida. Você é péssima. Faça um favor para humanidade e delete esse manuscrito.”

Chocante, eu sei. Mas não fiquei chateada, porque eu realmente queria uma opinião sincera, certo? Essas 70 páginas tinham levado cerca de 6 meses para serem escritas. Conforme ela disse, deletei o manuscrito. Comecei a reescrever tudo, mas desta vez usando minha veia artística: a comédia. De fato, me empolguei tanto que eu terminei o livro em 1 mês. Foram 236 páginas de word. Finalmente surgia o Cavaleiros do RPG, que mais tarde se chamou “Quem Precisa de Heróis?”

Pedi novamente a essa amiga que lesse. Ela disse que nem morta. Eu pedi em nome de nossa amizade e ela disse para que eu não forçasse, que nem mesmo nossa amizade resistiria a isso.  

Depois de muita insistência, ela topou, mas disse que não diria quando se daria o trabalho de ler. Mandei 70 páginas novamente. Dois dias depois, recebi a mensagem em meu e-mail. 

“Cadê o resto?”

Eu perguntei do quê. Ela me chamou de palhaça.

“Eu preciso ler o resto! O que aconteceu com o Djin? Meu Deus, você arrasou! Melhor livro que já li, por favor me mande o resto! “

Claro que não deixei por menos. Respondi com muito carinho: 

“Agora, compra, palhaça.”

Eu disse, mas depois dei um livro para ela depois de feito, hehe. 

A graduação foi um sucesso. Minha exposição foi a que mais lotou. Meus professores me encomendaram cópias do livro; minha professora da tese comprou 4 para dar de presente e se tornou minha amiga e leitora no Facebook.

"Agora foi tudo rosas?"

Aconselhada por algumas blogueiras que amaram meu livro, acabei fazendo um blog. Com o passar do tempo, escrevi a trilogia da Caçadora. 

Algumas blogueiras amaram de paixão. Pediram para que eu publicasse de modo tradicional. Eu estava meio pé atrás, mas elas fizeram um abaixo assinado e mandaram para várias editoras com mais de 500 assinaturas.  Sim, adoraria dizer que recebi respostas receptivas das editoras dizendo que queriam meu livro sim, mas as que recebi eram: “Por favor, pare de nos mandar e-mails”; “Peça aos seus leitores para não nos mandar essa lista novamente.”; “Pare com isso” , etc. Eu só respondia que não podia fazer nada.

Um dia uma editora pequena apostou em meu trabalho e me aceitou. A Caçadora vendeu milhares de cópias. Ficou entre os mais vendidos na livraria da Leitura no Shopping aqui de Brasília.

Fiquei encantada. No entanto, tive problemas com essa editora e depois de passar por alguns sufocos – mas encontrar editoras incríveis também –  fui parar na Draco. Com certeza amo estar lá, mas nunca deixei de voar: também fui parar na Qualis e na Lura. 

Só que antes de passar esse de ir parar na Draco, fui percebendo que nesse meio nem tudo eram rosas. Percebi que estava sendo plagiada (algumas vezes por minhas próprias fãs). Fui detonada por um grupo de escritoras porque eu havia esgotado meus livros na bienal e me difamaram horrores. Entrei em depressão. Sumi das redes. Esse mundo era pesado para mim; só queria fazer as pessoas rirem. Meu blog que era seguido por milhares de pessoas, estava às moscas. Eu não tinha mais ânimo. Eu já tinha escrito mais 7 livros, mas parei a produção.  

"A mudança que uma só pessoa é capaz de fazer"

Um dia recebi um e-mail de uma fã. Ela na verdade escreveu uma pequena carta para mim. Disse que sempre viveu em depressão. Já havia passado por dezenas de psiquiatras, que tomava medicação, mas que a vida dela nunca mudava. Certo dia, deram a Caçadora para ela. Depois disso, ela começou a consumir muitos livros meus e se tornou uma fã condicional. Parou com os remédios e decidiu ser escritora. No final ela agradeceu, pediu para que eu nunca deixasse de escrever e que eu havia salvado a vida dela. 

Ela não havia percebido, mas também salvou minha carreira. Passei a comprar muitos livros de escrita e desenvolvimento pessoal. Devorei cursos de escrita criativa. Com o passar do tempo, melhorei meu blog, voltei à ativa e passei a participar de concursos literários. Venci o Wattys 2017, o concurso Best Seller de André Vianco e fui chamada para entrevista na TV. 

Tudo porque alguém resolveu se expressar. Se ela foi capaz de mudar minha perspectiva com um simples e-mail, o que eu não seria capaz de fazer por outras pessoas? 

Hoje sou autora e ilustradora com muito orgulho, feliz, realizada e até envergonhada de ter me deixado abalar por tão pouco. Tive alguns problemas? Tive. Vou ter muitos outros? Sim.

Mas no final das contas, sou escritora. Vou sempre reescrever minha própria história.

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